Uma quadrilha formada por cinco jovens pernambucanos foi presa, em flagrante, no começo da tarde de ontem, quando tentava fraudar o concurso para agente penitenciário do Ceará. Os cinco homens foram flagrados em salas e blocos diferentes do Campus da Universidade Estadual do Ceará (Uece), no bairro Itaperi. Os acusados usavam telefones celulares escondidos nos sapatos para receber, através de vibração, as dicas de cada uma das questões.
O trabalho de desarticulação da quadrilha, no entanto, já durava cerca de dois meses, de forma sigilosa. Policiais civis e agentes do Núcleo de Inteligência da Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus) monitoravam os acusados e esperaram os acusados concluir a prova para efetuar a prisão em flagrante.
Vibração
Os cinco homens presos foram identificados como Ítalo Abraão Gonçalves David Andrade Sá, 20, natural de Mirandiba (PE); Victtor Kaollo Lima de Almeida, 31, de Surubim; Joelton Leal de Sá, 24, de Recife; Gustavo Araújo Ferraz de Moura Maniçoba, 28; e Isaac de Lavor Siqueira, 26. Em poder dos acusados a Polícia apreendeu os apetrechos que eles utilizavam para receber as informações dos outros membros do bando.
Além dos telefones celulares que eram escondidos nos sapatos (entre o solado e a palmilha), alguns dos candidatos usavam também pontos eletrônicos no ouvido.
Para cada questão, em, sequência, os candidatos recebiam uma quantidade de vibração no aparelho. “Por exemplo, se numa questão a opção correta da resposta fosse a de letra b, eram duas vibrações”, explicou o delegado Júlio Agrelli, titular da delegacia de Polícia Civil de Penaforte, que veio a Fortaleza participar da operação no concurso. Segundo os delegados que comandaram a investigação policial, a quadrilha cobrou a quantia de R$ 15 mil a cada candidato.
“Cada um deles deu uma parcela de entrada, no valor de R$ 5 mil, e pagaria o restante quando fosse anunciada a aprovação”, explicou o delegado Jocel Beserra Dantas, diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI) e um dos coordenadores da operação.
Marciliano Ribeiro, delegado titular de Acopiara e que efetuou a prisão de um dos acusados, explicou que um dos suspeitos recusou entregar o sapato do lado esquerdo, exatamente onde estava escondido o celular para receber os códigos através de vibração. “Ele tentou nos enganar, mas quando percebeu que já sabíamos onde estava o aparelho, começou a ficar nervoso”, disse Marcílio se referindo ao candidato Isaac Siqueira.
“Vamos aprofundar as investigações para descobrir de onde partiam as ligações que eram recebidas, através de vibração, pelos candidatos que estavam com os telefones”, afirmou o delegado Júlio Agrelli. Segundo as autoridades, as investigações feitas em sigilo nas semanas que antecederam a realização das provas indicavam que a quadrilha, procedente de Pernambuco, iria cooptar vários candidatos. A partir desta informação, foi montada a operação com a participação de 48 policiais civis (da Capital e Interior) e 42 agentes do Núcleo de Inteligência da Sejus.
O secretário da Segurança Pública do Estado, coronel Francisco José Bezerra, acompanhou toda a operação e destacou o chefe da Coordenadoria de Operações Policiais (Copol), delegado Andrade Júnior, para coordenar as ações no Campus juntamente com o diretor técnico operacional (DTO) da Delegacia Geral, delegado Lúcio Torres.
Estelionato
Depois de passarem por uma revista com o uso de detectores de metais (para a descoberta dos aparelhos celulares), os cinco acusados foram conduzidos à Delegacia Geral (Centro) e encaminhados ao Departamento de Inteligência Policial (DIP), onde permanecem recolhidos no xadrez. O delegado Jocel Dantas explicou que o grupo foi autuado em flagrante pelo crime de tentativa de estelionato qualificado, estabelecido no artigo 171 do Código Penal Brasileiro (CPB), parágrafo terceiro, cuja pena máxima é de cinco anos de reclusão e multa.
Um dos últimos casos de fraudes em concurso no Ceará aconteceu em 2009, quando uma quadrilha foi presa pela Polícia Civil acusada de fraudar o certame para cargos na Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), com provas foram realizadas em novembro de 2008. Numa sigilosa investigação, a Polícia identificou o promotor de eventos Danilo Carneiro de Morais, o irmão dele Daniel Carneiro de Morais, conselheiro tutelar; e os estudantes Anderson Belizário de Sousa e Aírton Sousa de Oliveira, que tiveram prisão preventiva decretada e, depois, revogada. Cinquenta candidatos teriam sido aprovados irregularmente.
Para receber as mensagens vibratórias, os acusados tinham os aparelhos celulares escondidos debaixo da palmilha dos sapatos. O truque foi descoberto pelos detectores de metais.
Fonte: Verdes Mares
11H