O alto índice de inadimplência decorre do elevado volume de carros, caminhões, ônibus e motos comercializados nos últimos dois anos. O primeiro recorde foi batido em 2010, foram emplacadas 5,4 milhões unidades, de acordo com a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Em 2011, a marca foi superada, e o ano fechou com 5,7 milhões de carros. De lá para cá os calotes dispararam e o índice de inadimplência, que permanecia na casa de 2% em 2010, chegou a 5,9% com pequenas variações de 0,2% ou 0,3% mês a mês.
Como medida de proteção, os bancos comerciais elevaram a restrição na oferta de crédito, o que deixou muita gente na vontade de ter um carro zero-quilômetro. Os estoques de veículos alcançaram 43 dias, e só não ficaram maiores do que em novembro de 2008, quando chegaram a 56 dias, segundo informações da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Com a economia caminhando a passos lentos, o governo federal decidiu então baixar os juros da Caixa Econômica Federal, em meados de abril, estopim da batalha entre os bancos comerciais na redução das tarifas.
“Com a possibilidade de fazer renegociação da dívida, a juros menores, a tendência é que a adimplência volte a crescer”, avalia o consultor Paulo Roberto Garbossa, diretor da ADK Automotive.
Para Garbossa, o índice de inadimplência no financiamento de veículos não deve voltar a subir porque o cenário está favorável ao pagamento de dívidas. “É preciso lembrar que são contratos antigos, que estão com parcelas em atraso há mais de três meses”, diz.
O consultor Ayrton Fontes, autor do blog Economia Brasil! Varejo Automotivo!, discorda. “A redução dos juros é só para as classes A e B, para quem ganha acima de R$ 10 mil, tem aplicações no banco e histórico de crédito”, afirma. “As pessoas que estão elevando a inadimplência têm renda de R$ 2.000 e compraram, entre 2009 e 2011, veículos sem entrada e em 60 vezes.”
Fontes estimava que a alta de abril chegasse a 6%, por conta do crescimento de 28% no atraso do pagamento de parcelas entre 15 e 90 dias de janeiro a abril contra o quadrimestre anterior. “Esses números funcionam como projeção da inadimplência.” Para ele, os calotes deverão continuar subindo por pelo menos mais um ano. (Diário do Grande ABC)