Quando a empresária Renata Alves, 26 anos, sai com as amigas para conversar e rir da vida na mesa do bar, uma regra há de ser seguida. Os celulares precisam ser excluídos da conversa. Na prática, funciona assim: sentam, tiram seus smartphones da bolsa e colocam eles no canto da mesa, virados de cabeça para baixo. “Pode tocar, vibrar, apitar mensagem. A gente tem que se controlar e não pegar.” A verdade é que a primeira a cair em tentação paga uns drinques a mais para as outras no fim da noite. “É o castigo. Não sabe brincar, não desce pro play”, conta, rindo.
A tática já funcionou várias vezes, mas já falhou também. “Há dias em que todas furam o acordo. Mas entre amigas, fica tudo de boa. A gente ri.” Entre uma espiadinha ou outra no Facebook ou no Whatsapp (ferramentas bastante usadas pelas amigas), elas se divertem, mas se policiam. “Tem horas que, quando percebemos, estamos todas conectadas. Às vezes, até mandando mensagem uma pra outra na mesma mesa. É meio ridículo. Quando notamos isso, paramos”, acrescenta Renata.
A especialista em mídias sociais Rosário de Pompéia, que trabalha na Lefil, empresa focada em assessorar companhias na montagem de estratégia para dialogar com seus clientes nas mídias sociais, ameniza o “drama” de Renata. Na verdade, diz Pompéia, nem é tão ridículo assim. “Toda essa discussão em torno do uso excessivo dos aparelhos móveis causa um estranhamento que considero natural e que já aconteceu em outras épocas da história”, comenta, referindo-se ao tempo em que as pessoas se reuniam nas praças não para conversar, mas para assistir à televisão. “O smartphone e toda essa conectividade acaba assustando mais, especialmente as gerações mais velhas, pela questão da mobilidade. Mas é algo natural. E pode, claro, ser positivo.”
Para que o hábito de estar conectado o tempo todo traga benefícios, Pompéia acredita que depende do uso que se faz desse canal de comunicação. “Muitas das conversas de mesa de bar giram em torno de assuntos atuais. Então, é natural que as pessoas busquem referências na internet através dos celulares”, diz. Ela acrescenta que, nesse caso, a ferramenta não prejudica a relação social. “Apenas muda a forma como as pessoas se relacionam fisicamente”, complementa. A especialista defende que não há como generalizar e nem criar padrões do que é certo ou errado. “Tudo vai depender de cada um. É preciso ser visto caso a caso.”
Pompéia acredita que falar em redes sociais como apenas mais uma mídia é uma ideia simplista. “A portabilidade gera novos comportamentos, já que há um maior uso dos smartphones até na hora de socializar. É uma nova forma de comunicação no mundo. Então, como é possível deixá-la fora da mesa do bar? Ideal, acredito, é evitar os exageros”, aconselha.